O autor Lauro César Muniz
Um grupo de 28 atores de “Máscaras” – praticamente todo o elenco da trama – divulgou uma “carta de amor” à novela e ao autor Lauro César Muniz. No documento, os artistas chamam atenção para as mudanças promovidas na história e a relação qualidade/audiência imposta por alguns setores da mídia.
Com médias entre 5 e 7 pontos, “Máscaras” obtém até o momento uma das mais baixas médias da dramaturgia da Record. A trama, não custa lembrar, vem sendo exibida por volta das 23h30, o que impossibilita um melhor desempenho no Ibope.
Confira, na íntegra, a carta:
CARTA DE AMOR DOS ATORES DE “MÁSCARAS”
Inconformados com o tratamento dado ao nosso trabalho, em vários tipos de mídia, nos manifestamos e queremos alertar para algo que não está sendo percebido.
No começo os críticos reclamavam que a novela era difícil, feia até. Acatamos, Lauro abriu mais a trama, lutamos, perdemos um diretor, ganhamos outro, uma NOVA novela está no ar. Isso, estranhamente, quase ninguém comenta.
1 – É do conhecimento de todos que uma novela que vai ao ar após às 23h30m , não tem a mesma audiência de uma outra que vai ao ar às 21h. No entanto, a veiculação sobre o índice de audiência de “Máscaras”, não vem com esta informação.
2 – Nós não aceitamos a avaliação de nosso trabalho apenas através do índice/Ibope, o que significaria colocar o trabalho dos atores no mesmo patamar de componentes de um reality show. O Ibope é um índice de mercado, comercial, compreendemos isso, mas nosso trabalho é artístico.
3 – “Máscaras” inova e transgride, mas isto não está sendo percebido pela maioria. O que não estão vendo em nossa novela, é que ela quebra com os clichês das novelas convencionais: quando apresenta um galã dúbio, que tanto pode ser bom ou mau caráter, sem heroísmo romântico; vilões que se apaixonam, cujas ações são misturadas com humor e atitudes paradoxais, sem maniqueísmos; um casal que tem um filho imaginário, uma metáfora, algo inexistente em novelas; personagens com tesão explicita e realizada, fugindo aos padrões antigos de comportamento; um retrato político do capitalismo selvagem internacional, ao mostrar uma organização com interesses em propriedades de outra nação, como acontece com o petróleo do Oriente Médio, ou a loucura dos investidores da bolsa americana, em sua ambição desenfreada, levando o mundo a uma crise imensa. Não é justo que essa inovação, essa ousadia, não fique registrada, seja tratada tão prosaicamente, baseada tão sómente no valor Ibope.
4 – Não estamos incomodados por qualquer crítica desfavorável, respeitamos o gosto de cada um. Afinal, o que seria da música “brega”, se todos gostassem de Mozart? O que seria de Van Gogh que só vendeu após a morte? O que nos dói é saber que esta que será a última novela de Lauro Cesar Muniz tem sido tratada de forma tão equivocada por alguns veículos da mídia, sem o cuidado de prestar atenção ao texto deste grande dramaturgo, cuja obra plenos de amor e garra representamos. Além disto trata-se do nosso ofício e do nosso mercado de trabalho.
5 – Temos encontrado uma reação calorosa nas ruas e, sabemos, isto não acontece com um trabalho sem audiência. A TV de hoje tem tantos canais, tanta programação, que não se pode cobrar das pessoas que acompanhem tudo e, talvez por isso, não tenham percebido o que estamos alertando agora. Mas, tendo feito já as mudanças que grande parte da mídia tanto criticou e talvez estivessem certos em alguns aspectos, seria honroso que no mínimo comentassem de forma mais respeitosa, e opinassem inclusive sobre a “nova novela” quem vem sendo exibida, chama-se “Máscaras” e é boa pra caramba.
Assinam:
Barbara Bruno, Bemvindo Sequeira, Carlos Bonow, Domingos Antonio, Eliete Cigarini, Fernando Pavão, Flavia Monteiro, Giusepe Oristânio, Heitor Martinez, Iris Bruzzi, Jean Fercondini, Jonas Bloch, Jorge Pontual, Livia Rossy, Luiza Curvo, Marcelo Escorel, Marcio Killing, Nicola Siri, Nina de Pádua, Paloma Duarte, Pâmella Vidal, Petrônio Gontijo, Raul Gazolla, Renato Livera, Robert Bomtempo, Sabrina Costa, Tatsu Carvalho e Theo Fox.